Estados Unidos devem impor mais sanções ao Brasil após julgamento de Bolsonaro, diz Rubens Barbosa
O ex-embaixador Rubens Barbosa afirmou que os Estados Unidos devem impor novas sanções ao Brasil com o fim do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro nesta semana no Supremo Tribunal Federal (STF). “Depois desse julgamento agora, esta semana, no fim desta semana, vão acontecer coisas em relação ao Brasil vindo lá de Washington”, disse, durante participação na reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag).
Ele destacou que sanções a autoridades brasileiras e medidas comerciais são iminentes. “Eu não tenho a menor dúvida de que alguma coisa vai acontecer”, disse o diplomata, que mencionou a possibilidade de um aumento das tarifas além dos 50% já impostos, dependendo do desfecho do julgamento.
Barbosa afirmou que a política de tarifas do governo Trump já afetou a competitividade de produtos industriais e agrícolas brasileiros. Ele destacou que uma promessa de exceção a produtos não cultivados nos EUA não foi cumprida. “Entrou só o suco (na lista de exceções), e outros produtos ficaram fora”, comentou.
O diplomata também comentou sobre a contestação da legalidade do tarifaço na Suprema Corte americana, que não deve ter êxito. “Eu não acredito que a Suprema Corte vá anular o que o Trump já fez. Vão encontrar alguma desculpa lá e vão manter. Agora, se a Suprema Corte considerar ilegal, o Brasil vai ser positivamente afetado, porque toda a base legal das tarifas impostas ao Brasil, aos 50%, é na base da emergência comercial”, explicou.
Barbosa alertou ainda que, caso haja problemas na legalidade das tarifas, os EUA podem impor sanções com base em questões ligadas ao desmatamento. Ele também mencionou riscos relacionados à regulamentação de big techs: “Aqui no Brasil, com o Supremo, com o governo, regulamentando as big techs, vai ter problema que pode recair, inclusive, em cima do agronegócio”.
O ex-embaixador afirmou que “não vai haver movimento na área comercial se não houver gesto político do governo brasileiro”, ao comentar a complexa relação entre Brasil e Estados Unidos diante das tarifas impostas pelo governo Trump aos produtos do País. Durante participação na reunião do Cosag, Barbosa destacou que a solução passa por um contato direto entre líderes: “O gesto político precisa ser uma ligação do Lula ao Trump”.
Para ele, o Brasil precisa agir de forma concreta e imediata: se o presidente Lula não quiser telefonar para Trump, há alternativas, como enviar o vice-presidente Geraldo Alckmin ou outro representante de alto nível, garantindo pelo menos a tentativa de contato diplomático.
Segundo o diplomata, as tarifas de 50% aplicadas a produtos brasileiros não podem ser analisadas apenas sob a ótica econômica. “Essa tarifa não é uma coisa isolada para atrair investimento, para reduzir o déficit… É parte de uma estratégia do establishment americano, de contenção e de imposição da hegemonia norte-americana nesse século 21”, explicou.
O aumento das tarifas sobre produtos brasileiros não é apenas uma questão administrativa, mas reflete uma nova configuração geopolítica, afirmou. Ele destacou que medidas como o tarifaço estão inseridas em estratégias mais amplas de Washington e vão além de simples negociações comerciais. “Não é uma questão que se resolve no telefonema do Lula. É parte de uma nova geopolítica”, disse.
Barbosa ressaltou ainda a importância do setor privado norte-americano na negociação de tarifas, citando experiências anteriores com cotas para o alumínio e aço e a criação de um instituto em Washington, que atua como um canal de representação permanente do Brasil junto ao governo e setor empresarial americano.
O diplomata apontou alternativas estratégicas para o comércio brasileiro, como a exportação via Paraguai, que mantém relações comerciais favoráveis com os EUA e tarifas mínimas. Ele reforçou a necessidade de o Brasil ter uma estratégia nacional clara e sistemática, destacando a concentração de exportações na Ásia e a urgência de diversificação de mercados: “Hoje, a Ásia recebe 50% das exportações brasileiras, 40% vai para a China. Então, não tem jeito, a gente vai ter de fazer esses acordos com a Ásia”.
Barbosa também ressaltou que o país precisa agir com autonomia e planejamento estratégico, sem depender de terceiros. “O que vale é o interesse de cada um. Não podemos estar esperando nada de ninguém. Esse é o mundo que nós vamos viver, e vamos ter de ter alternativas”.
O ex-embaixador ressaltou ainda a importância de diversificar mercados e adotar estratégias de longo prazo. Ele citou exemplos históricos de negociações bem-sucedidas mediadas pelo Brasil nos EUA e alertou para a necessidade de o país ter planejamento estratégico sistemático, algo que, segundo ele, ainda não existe de forma consolidada.
O diplomata destacou que um acordo comercial entre Estados Unidos e China poderá ser fechado em breve, o que terá impacto direto sobre o agronegócio brasileiro. “Se sair acordo entre China e EUA, a soja brasileira será a primeira afetada”, disse.
Ao tratar das relações comerciais com a China, Barbosa ressaltou a vulnerabilidade brasileira. “Se a China quiser, ela fecha um acordo com os Estados Unidos, e compra só de lá, e deixa de comprar o Brasil. Esse é o mundo em que nós vamos viver”, afirmou.
Fonte: www.msn.com